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Polícia Civil de Dourados registra 11 suicídios em oito meses

Dados da Polícia Civil de Dourados mostram que nos últimos 8 meses, 11 pessoas tiraram a própria vida em Dourados; uma morte a mais do que no mesmo período de 2016. Durante todo o ano passado, 19 pessoas cometeram o autoextermínio.

De acordo com o delegado regional da Polícia Civil, Lupercio Degerone, ao contrário do que se imaginava, a maioria dos casos não está concentrada nas aldeias como ocorria a anos anteriores. Esse ano, 40% das mortes foram registradas na reserva enquanto o restante (60%) em bairros diversos de Dourados. Do total de 11 suicídios, 9 foram cometidos por homens e 2 vitimaram mulheres. As idades variam entre 14 e 73 anos. Para o delegado, os números são preocupantes e mostram um crescimento ao longo dos anos que chama a atenção.

Conforme ainda Degerone, as causas são as mais variadas, mas a depressão "é o mal do século". Segundo ele, além dessa doença, constam nos inquéritos motivos como sentimento de abandono, dificuldades financeiras, desilusão amorosa, uso de drogas, além de perda na família. Todos os casos de suicídio são investigados pela Polícia Civil para a comprovação dessa hipótese, já que, conforme o delegado, pode ter ocorrido um homicídio simulado. Segundo ele, também pode ocorrer o crime de indução ou auxílio ao suicídio, que é um crime previsto no artigo 122 do Código Penal Brasileiro e é classificado como um crime contra a vida, que consiste no açular, provocar, incitar ou estimular alguém a suicidar ou prestar-lhe auxílio para que o faça.

Em âmbito nacional, o Estado de MS figura como 2º da lista do Ministério da Saúde como a Capital com mais números de suicídios por número de habitante. São 7,82 suicídios para 100 mil habitantes. Quem lidera a pesquisa é Rio Grande do Sul com 9,22 para cada 100 habitantes. No Brasil, todos os dias, 32 brasileiros tiram a própria vida. Quase 1 milhão de pessoas se matam por ano, uma a cada 40 segundos. São mais vítimas que todas as guerras, homicídios e conflitos civis somados. E, para cada morte por suicídio, existem outras 10 ou 20 pessoas que já tentaram fazer o mesmo. Enquanto os índices têm caído na maioria dos países, as taxas brasileiras avançam. Entre 2002 e 2012, o número de casos subiu 34%. Entre adolescentes de 10 a 14 anos, o aumento chegou a 40%, de acordo com o último levantamento do Mapa da Violência.

Sem estrutura

A depressão, que atinge 11,5 milhões de brasileiros, teve um aumento de 18% no Estado de Mato Grosso do Sul, segundo dados da Assembléia Legislativa. Apesar disso, apenas dois hospitais psiquiátricos estão funcionando no Estado. O setor vive uma crise ainda maior com o anúncio da Santa Casa fechar a ala psiquiátrica como uma forma de forma de otimizar recursos. Na Assembleia Legislativa, entre os encaminhamentos da discussão estão a união de forças com o Governo do Estado e Secretarias para aumentar o número de psicólogos e psiquiatras no atendimento a população; solicitação de implantação de novos hospitais psiquiátricos no Estado e desenvolvimento de ações para prevenção da depressão.

Setembro Amarelo

Em Dourados, a presidente da Câmara Municipal, vereadora Daniela Hall (PSD) está mobilizando a população as ações que ocorrem no município em alusão ao "Setembro Amarelo", mês de prevenção a depressão e ao suicídio. Para se ter uma idéia do cenário local, no ultimo dia 10, Dia D de prevenção ao suicídio, três pessoas cometeram autoextermínio em Mato Grosso do Sul.

A vereadora tem destacado que durante o mês estão sendo realizadas palestras na Unigran, um curso de prevenção ao suicídio, campanha de conscientização na Praça Antônio João, entre outras atividades organizadas pelo acadêmico de psicologia e coordenador do Setembro Amarelo, Sandro de Toledo. O encerramento será no dia 29, com palestras. A vereadora também está buscando parcerias para a implantação de um dos serviços mais respeitados e importantes de apoio emocional e prevenção do autoextermínio: o Grupo Amor e Vida (GAV-141). A entidade, que atendia de forma gratuita na cidade através do Centro de Valorização da Vida (CVV) fechou as portas em 2010 por falta de incentivos públicos.

A vereadora Daniela também pediu para a Prefeitura de Dourados um protocolo de alerta nas equipes de Saúde da Família para identificar adolescentes em situação de depressão, ou vulneráveis a grupos suicidas para encaminhar para atendimento especializado.

A vereadora sugere que a Prefeitura avalie a possibilidade de contratar psicólogos, com aval do Ministério Público, para treinar equipes e elaborar uma grande rede integrada na Educação, Saúde, Assistência Social, Cultura e Esportes. Ela também sugere a implantação um centro especializado em atendimento psicológico em Dourados. "Entendo que temos que prevenir tragédias em nossa cidade e não ficar esperando que elas aconteçam para só depois tomarmos uma iniciativa. Temos que levar informações as pessoas e criar maneiras de tratar a depressão que está destruindo vidas. Nossa gente merece um atendimento especializado e de qualidade. Estou pronta para ajudar no que for necessário, buscando apoio da nossa bancada federal", explica.

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