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Fique a vontade, pode me chamar de gorda sim, o quanto quiser!

Me perdoem o desabafo em uma coluna que se propõe a falar de coisas “para cima”, de alegrar mulheres e falar sobre empoderamento, mas não podemos fechar os olhos diante de tantas barbaridades que acontecem todos os dias.

Vim aqui inclusive para abrir o coração. O jornal Extra, do Rio de Janeiro divulgou no ultimo dia 21 uma matéria sobre uma estudante universitária negra, grávida de três meses e gorda, que foi vítima de racismo, machismo e gordofobia em um grupo de “graduação”.

Carla Gomes, de 21 anos, de Porciúncula, no Norte do Rio de Janeiro, cometeu um crime contra os “facistas”. Ela de decidiu comentar em uma postagem que a indignou, com conteúdo discriminatório. Sim, foi esse crime cometido pela acadêmica.

“Preta até vai, mas gorda e fedorenta?”, ou “Orca baleia” e outras ofensas pesadíssimas (nossa, que trocadilho). E eu mais uma vez tenho que escrever que sim, precisamos falar de gordofobia.

Outro dia, nos comentários daqui mesmo do Lado B, uma senhora do nada veio contestar uma opinião minha com a frase. “Eu sou homofóbica e magra, e também sou preconceituosa”. Ok, obrigada, melhor ser gorda do que podre, não é?

E qual o problema da mulher ser gorda??? Ou da pessoa ser gorda? Alguém pode me responder, nem que seja na Bíblia, no código penal ou em algum manual idiota de instruções que esteja escrito que não pode ser gordo?

O preconceito chega ao ponto das pessoas não chamarem a outra de “gordo” ou “gorda” porque soa como ofensa pior que chamar de criminoso. Tipo, é mais feio chamar de gorda do que de puta! E aliás, titia vai ensinar que não pode chamar nem de um, nem de outro ok?

E na verdade, tem dias que eu me canso disso, porque vivi e vivo tudo isso todos os dias da minha vida. Vou contar uma história para vocês aqui que aconteceu na minha vida profissional. Eu trabalhava para um grande empresário e político e acabava por auxiliar na manutenção de perfis das redes sócias e às vezes até do perfil pessoal dele.

Lembro que fiquei atônita quando uma pessoa enviou uma mensagem para ele dizendo que era para me demitir porque eu era gorda. Gente, alguém se deu o trabalho de enviar uma mensagem ao meu chefe falando que eu tinha que ser demitida porque eu era muito gorda.

Eu me lembro das palavras: ‘Você tem que demitir essa sua assessora, ela é gorda’. Confesso que fiquei sem ação e apaguei o comentário, bem profissionalmente. E depois percebi que não adiantaria, porque eram várias mensagens dessas por conta do posicionamento político que tenho.

Pensa só, alguém pedindo a demissão de alguém por ser gorda? Pois é minha gente, isso existe. E quando me dei conta que mais cedo ou mais tarde ele iria ler os inúmeros comentários em relação a minha forma física, não tive dúvidas. Sentei com ele e abri o coração. A resposta foi a melhor possível. “Não te contratei por causa da sua aparência e sim com sua competência”.

Ali, eu claro fiquei aliviada. Mas as ofensas nunca cessaram. E toda vez que eu vejo alguém fazendo o que fizeram comigo eu fico tão tristes, mas mantenho a esperança que sim, nós precisamos falar de gordofobia e de preconceito e mais ainda de humanidades.

Sem mimimi, sem chororô e com a realidade de que isso não vai mudar tão cedo, veja pelo preconceito racial que a escravidão acabou em 1888 e ainda tem gente com mente do século passado e que trata o negro como se fosse sub, ainda assim há progressos nesse sentido.

Então, não podemos desistir e temos sim que insistir em tudo que pudermos para fazer do mundo um lugar melhor para se viver e para que as pessoas percebam o quanto o outro ser humano também é importante.

E eu começo por mim: pode me chamar de gorda sim. Não sou forte, porque não sou alterofilista; não sou cheinha porque não sou balão e nem gordinha, porque isso é a maneira velada de ofender. Pode me chamar de GORDA, com todas as letras que uma gorda tem, porque o que me define não é ser gorda ou magra, branca ou negra, loira ou morena, o que me define é o que eu faço pelo mundo que vivo e pelas pessoas ao meu redor. E eu não trocaria isso por nenhum corpo de Barbie!

Beijos de luz!

Liziane Berrocal é jornalista, fez bariátrica e tem o blog Lizi Plus!

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