ARTIGO

Inversão de valores

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Tenho muitos amigos e conhecidos que são policiais. Posso dizer que a polícia é uma classe de heróis. O salário não compensa o fardo. São soldados que empenham a própria vida para nos proteger, combatendo verdadeiros exércitos do crime. Não é exagero a comparação com uma guerra. Sabemos que a segurança pública no país tornou-se questão de soberania nacional. Organizações criminosas violentas continuam a exercer o seu domínio nefasto. Na linha de frente da segurança pública estão as forças policiais.

Infelizmente, é comum a grande mídia referir-se a polícia de forma depreciativa, enfatizando a exceção (os casos de abusos e violência policial). No entanto, a regra é que a violência da criminalidade brasileira, enfrentada diariamente pelos nossos policiais, é uma verdadeira guerra civil, que já matou mais que muitas guerras militares de outros países. Mata mais que corona vírus. São mais de 600 mil mortos nos últimos anos, cidadãos que tiveram suas vidas ceifadas por violentos criminosos, dentre as vítimas, os próprios policiais. Será que deveríamos fechar o comércio e mandar a população ficar em casa para reduzir esse índice? No último ano, felizmente, houve uma queda expressiva nos números da criminalidade, uma primeira batalha vencida, mas longe de ser a vitória desta guerra, ainda muito preocupante. 

Forças policiais são humanas, imperfeitas e passíveis de críticas. Mas quase sempre sofrem uma avaliação injusta nos noticiários. As polícias brasileiras são a linha divisória entre a civilização e a barbárie. Basta ver o que houve quando, em alguns estados, a polícia resolveu fazer greve. 

Há uma clara inversão de valores na maneira em que muitas notícias são interpretadas e repassadas ao grande público (pontos de vista, mas tratados como se fossem verdades absolutas). Podemos acreditar ser realidade o que, muitas vezes, não passa de opinião. Sem uma análise geral do contexto, sem a consideração de vários ângulos da mesma questão, as notícias podem ser embasadas apenas em recortes dos fatos e dos números, sendo assim transmitidas, sem qualquer contestação, apesar de uma frequente ausência de bom senso e excesso de ideologia, quase escancarada ao expectador mais atento.

Quando dizem, por exemplo, que a polícia brasileira é a que mais mata no mundo, esquecem de dizer que também é a que mais morre. Esquecem de ponderar vários outros elementos e circunstâncias. Reforçando o estereótipo de "polícia violenta e opressora", indevidamente criado, até mesmo as chamadas "publicações especializadas" trazem números genéricos e fatos excepcionais negativos (que sempre existirão em qualquer instituição humana), mas não colocam na mesma esteira, por exemplo, a qualidade e o sucesso de muitas operações praticadas pelas polícias, reprimindo e prevenindo muitas iniciativas criminosas e evitando muitas mortes. E mesmo quando, nessas operações, ocorrem as (sempre indesejadas) mortes, é preciso ponderar se não foram cometidas "em combate", sob o amparo da legítima defesa própria e de terceiros, comum na atuação policial. Essas baixas, que podem ser lamentáveis, mas legalmente justificadas, não poderiam figurar em números como se fossem homicídios cometidos pela polícia, já que não praticadas de forma intencional ou violenta, mas no exercício legítimo da profissão.

Obviamente que os "maus policiais" existem e devem ser punidos nos seus abusos. Mas quem trabalha com o sistema de justiça criminal sabe que o Brasil conta com a maioria dos seus policiais bons, honestos, treinados e vocacionados. Devemos, portanto, falar em investimento na polícia e valorização do trabalho policial. Todos (a exceção dos criminosos) ganham com uma polícia mais qualificada, valorizada e respeitada. É a nossa força protetora (e não opressora), legalmente constituída, a serviço da sociedade. 

Analisando a temática, o comentarista político, Caio Coppolla, da CNN, refletiu: "Ser policial no Brasil é praticamente ser um 'super-humano'. O policial brasileiro é submetido a um nível de estresse, ansiedade e tensão que são inimagináveis, porque esse é um país que se diz em ‘paz’, mas vive em guerra, refém do crime organizado". Para ele, não é possível generalizar que a polícia é violenta, quando apenas uma ínfima minoria se comporta assim. “Eu me recuso a rotular uma classe de heróis com base em alguns poucos indivíduos corrompidos”, afirmou. Ou seja, críticas podem (e devem) sempre existir, mas que sejam devidamente individualizadas as responsabilidades, sem tratar a exceção como regra. Evitemos a inversão generalizante e injusta, que coloca o policial como vilão e o criminoso como vítima. Cada qual no seu lugar.

*O autor do artigo é pós-graduado em direito público, analista judiciário, palestrante e colunista nas áreas de desenvolvimento pessoal, espiritualidade e atualidades. É sul-mato-grossense, mas mora atualmente no Rio Grande do Sul.

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