Educação

Modelo educacional brasileiro exclui os mais pobres, aponta debate

Telmário Mota (2º à esq.) preside audiência com Ralph Alves, João Batista Oliveira e Daniel CaraMarcos Oliveira/Agência Senado Telmário Mota (2º à esq.) preside audiência com Ralph Alves, João Batista Oliveira e Daniel CaraMarcos Oliveira/Agência Senado

O Brasil é campeão mundial em reprovação e evasão escolar, num modelo educacional marcado ao mesmo tempo por subfinanciamento e desperdício de recursos, além de desmotivação de boa parte dos estudantes e professores.

Esse é o quadro atual da educação básica no país, segundo especialistas que participaram na quarta-feira (25) de audiência pública na Comissão de Educação (CE) do Senado.

O coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, aponta que os milhões de estudantes que todos os anos são reprovados ou abandonam a escola traduzem um modelo voltado para a exclusão social dos mais pobres.

Daniel Cara adverte que a grande maioria dos alunos que desistem ou reprovam provém das periferias e são negros, o mesmo segmento mais vitimado pela repressão policial, pois ainda predomina no país a ideia de que os direitos e a cidadania não são para todos.

Nosso modelo na prática nega a promoção da cidadania para amplos segmentos sociais. É esse tipo de concepção que está por trás da militarização das escolas, conduzida por alguns governos estaduais.

A militarização só ocorre nas periferias das grandes cidades, pois entende-se que esses jovens têm que ser domados, mais do que educados, ou que tenham uma concepção de cidadania — afirmou.

O representante do Ministério da Educação, Raph Alves, confirmou que pesquisas conduzidas pela pasta corroboram que a cultura da reprovação predominante no modelo brasileiro é uma das principais causas de desmotivação, insucesso e abandono escolar.

Além de ser um modelo estruturado para a exclusão social, também predomina o subfinanciamento, na opinião dos debatedores.

No desafio de aumentar as verbas para a educação, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN) lembrou que é a relatora da PEC que torna o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) uma política permanente (PEC 24/2017).

Ela confirmou que trabalha num desenho institucional que aumente a participação da União no financiamento desse sistema, que hoje fica em torno de 10%.

Para a senadora, o Fundeb é um caminho para que o setor drible os "efeitos perversos" do teto de gastos na área social (Emenda Constitucional 95), mas que o ideal é que o próximo governo revogue o teto.

Além de mais verbas, a área também precisa rediscutir "com urgência e sem hipocrisia" como esses recursos são investidos, na opinião do educador João Batista Araujo, do Instituto Alfa e Beto.

Entre as prioridades, ele aponta que o poder público em todos os níveis precisa estar mais atento à formação e aprimoramento dos professores, pois as pesquisas indicam que esse é hoje um grande gargalo.

O especialista também defende que especialmente no ensino médio os conteúdos devem estar mais voltados à formação profissional.

Os trabalhos foram conduzidos pelo senador Telmário Mota (PTB-RR), que concordou com o diagnóstico de que a educação básica no país passa por um quadro de profunda crise estrutural.

São 3 milhões de alunos reprovados todos os anos, um caso único no mundo que traduz como qualquer outro que esse modelo não é funcional. Traduzido em verbas, é como se jogássemos fora R$ 8 bilhões por ano numa área que já é subfinanciada.

E como vimos, quem paga o pato são as crianças mais pobres, acumuladas em salas de aula superlotadas e desconfortáveis, submetidas a conteúdos que não dialogam com os desafios atuais, dados por profissionais nem sempre nas melhores condições — finalizou o senador.

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