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Fernández vence Macri em 1º turno e é eleito presidente da Argentina

Alberto Fernández cumprimenta apoiadores em comício após se eleger presidente da Argentina neste domingo (27) - Crédito: Agustin Marcarian/Reuters Alberto Fernández cumprimenta apoiadores em comício após se eleger presidente da Argentina neste domingo (27) - Crédito: Agustin Marcarian/Reuters

Alberto Fernández foi eleito novo presidente da Argentina nas eleições deste domingo, dia 27 de outubro. Com a ex-presidente Cristina Kirchner como vice na chapa, ele derrotou o atual mandatário, Mauricio Macri – resultado previsto ainda nas prévias eleitorais de agosto.

Fernández discursou a apoiador e aceitou o convite de Macri para o diálogo. "A única coisa que me preocupa é que os argentinos deixem de sofrer. Nosso compromisso é com cada um dos argentinos e argentinas", disse.

"Obrigado por construir uma Argentina mais igualitária, que cuide da saúde e da educação pública, que privilegie os que trabalham. Obrigado também aos que não votaram em nós por participarem desta jornada."

Com 97,4% das urnas apuradas, Fernández tinha 48,02% dos votos. Macri, 40,46%. O resultado garantia a vitória para o kirchnerista porque, na Argentina, o candidato vence no primeiro turno se obtiver mais do que 45% dos votos.

O presidente eleito ainda homenageou o ex-presidente Néstor Kirchner, morto em 2010 e que governou o país entre 2003 e 2007.

"Obrigado, Néstor, onde você esteja. Porque você semeou tudo isso que estamos vivendo."

Cristina Kirchner também comemorou a vitória. "Hoje Alberto é presidente de todos os argentinos e tem uma imensa tarefa e responsabilidade pela frente, uma tarefa ciclópica, que exigirá esforços inimagináveis, um país arrasado, muito além do marketing, uma tarefa muito difícil que exigirá a ajuda de todos argentinos, quem votou e quem também não votou ", afirmou.

Em discurso a apoiadores, Macri concedeu a derrota às 22h23 (horário de Brasília) e convidou Fernández para um diálogo durante café da manhã na Casa Rosada nesta segunda-feira.

Enquanto Fernández, Kirchner e Macri discursavam, a diretoria do Banco Central argentino se reunia para discutir medidas para conter a subida do dólar frente à moeda local. Em seguida, anunciou que pessoas físicas terão, a partir desta segunda-feira (29), um limite de US$ 200 de compra de moeda americana por mês.

Fernández nunca concorreu a um cargo majoritário. Ele é um dirigente peronista, a principal corrente política do país e foi escolhido pela ex-presidente Cristina Kirchner para liderar a chapa –ela será sua vice se o resultado das projeções se confirmar.

O presidente eleito foi uma surpresa na campanha eleitoral argentina. Peronista moderado e pragmático, o professor de direito da Universidade de Buenos Aires foi alavancado pela companheira de chapa, Cristina Kirchner, e teve o apoio de um núcleo de conselheiros, o Grupo Callao (referência ao endereço onde eles se reúnem, na Avenida Callao, em Buenos Aires).

No começo dos anos 2000, o próprio Fernández participou de um conjunto semelhante, o Grupo Calafate, que ajudou a levar Néstor Kirchner à presidência.

País dividido

Argentino vive em barraco de madeira e lona na província de Salta, na Argentina — Foto: Javier Corbalán/AP PhotoArgentino vive em barraco de madeira e lona na província de Salta, na Argentina — Foto: Javier Corbalán/AP Photo
Argentino vive em barraco de madeira e lona na província de Salta, na Argentina — Foto: Javier Corbalán/AP Photo

Fernández governará um país dividido. Para muitos argentinos, o retorno do peronismo de Kirchner é uma catástrofe. O presidente eleito declarou durante a campanha:

"Que os argentinos fiquem calmos, respeitaremos seus depósitos em dólares".
Ele se referia ao fantasma do "corralito" durante a crise de 2001, quando os depósitos bancários foram retidos e os dólares convertidos em pesos, deixando os correntistas com muito menos em conta do que pensavam ter.

Com décadas de inflação e desvalorizações cíclicas, os argentinos estão acostumados a se refugiar no dólar como forma de poupança.

Dólar disparou na Argentina, mostra casa de câmbio fotografada na sexta-feira (25) — Foto: Ronaldo Schemidt/AFPDólar disparou na Argentina, mostra casa de câmbio fotografada na sexta-feira (25) — Foto: Ronaldo Schemidt/AFP
Dólar disparou na Argentina, mostra casa de câmbio fotografada na sexta-feira (25) — Foto: Ronaldo Schemidt/AFP

A moeda argentina desvalorizou 70% desde janeiro de 2018. Nos dias que antecedem as eleições, os mercados estão reaquecendo e a taxa de câmbio excede 63 pesos por dólar.

Em meados de 2018, no meio de uma corrida cambial, Macri foi ao Fundo Monetário Internacional, que concedeu a ele ajuda financeira de US$ 57 bilhões em três anos, em troca de um programa de forte ajuste fiscal, que jogou contra o presidente no momento da votação.

Ainda falta a liberação de US$ 13 bilhões, mas o FMI aguarda o resultado da eleição para negociar com quem for eleito.

Durante a campanha, Fernández propôs uma trégua de 180 dias para sindicatos e movimentos sociais para fazer descolar a indústria e assim o país retomar o crescimento econômico.

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