violência doméstica

'Meu marido amputou minhas mãos com um machado': a terrível violência doméstica na Rússia

Margarita Gracheva foi vítima de violência doméstica: suas mãos foram cortadas pelo marido — Foto: BBC Margarita Gracheva foi vítima de violência doméstica: suas mãos foram cortadas pelo marido — Foto: BBC

"Ele me levou para uma floresta, um lugar isolado. E gritou: coloca suas mãos na árvore. Eu chorei, gritei, implorei para ele não me machucar. Então ele disse para eu não olhar, e começou a cortar minhas mãos".

Essa história dramática pertence à russa Margarita Gracheva, de 26 anos, vítima de violência doméstica praticada por seu então marido.

Em dezembro de 2017, depois de deixar os filhos do casal no berçário, seu agora ex-marido Dmitry Grachev a levou a um bosque nos arredores de Moscou. No local, ele prendeu Margarita com torniquetes e amputou as duas mãos da esposa com um machado.

Em seguida, ele a levou a um hospital e entregou uma caixa aos médicos - nela, havia a mão direita de Margarita. Depois, Grachev se entregou à polícia.

O caso de Margarita aponta para o problema da violência doméstica na Rússia. No ano passado, o país relaxou as leis de violência contra as mulheres do código penal.

O marido de Margarita foi condenado a 14 anos de prisão na última quinta-feira, 15 de novembro.

Ameaças

Dias antes do ataque, Dmitry Grachev ameaçou a esposa com uma faca. "Ele pegou uma faca e colocou em meu pescoço. Ele repetia: Admita, você está me enganando ou não?", diz Margarita à BBC.

"Quando fui à polícia, tinha certeza que eles viriam a minha casa no dia seguinte, mas não foi assim que aconteceu", contou ela.

"O policial me disse: 'Vocês vão fazer as pazes, isso não é importante'. O caso foi encerrado. Três dias depois, ele me levou para a floresta e cortou minhas mãos", conta Margarita.

Rússia modificou leis sobre violência doméstica

Em fevereiro de 2017, o Congresso da Rússia modificou o código penal do país para eliminar algumas das leis que puniam a violência doméstica. A mudança foi sancionada pelo presidente Vladimir Putin.

Segundo a nova legislação, as agressões que causam dor física, mas não lesões, e deixam hematomas, arranhões e ferimentos superficiais nas mulheres ou crianças não são consideradas crime, mas uma falta administrativa. As agressões só viram um processo criminal caso haja reincidência - e isso só acontece se a vítima conseguir provar que foi agredida mais de uma vez.

Essas mudanças motivaram uma série de protestos de ativistas nas ruas da Rússia. Mais de 600 mulheres são mortas em suas casas a cada mês no país, de acordo com estimativas policiais.

Um relatório da ONG Human Rights Watch (HRW) afirmou que as mudanças na lei iriam retirar uma proteção importante e deixar as mulheres mais vulneráveis à violência.

O governo russo criticou o relatório, alegando que ele não refletia a realidade do país.

No caso de Margarita, como de outras milhares de mulheres da Rússia, os abusos começaram com espancamentos, mas eles foram desconsiderados pela polícia. "A princípio, pensei que algo estava estranho. A polícia classificou meu caso como uma falta administrativa e não como crime. Você bate em alguém e é apenas multado", diz ela.

Seu ex-marido foi multado em 10 mil rublos (cerca de R$ 560) por tê-la ameaçado com uma faca.

Marido foi julgado e condenado

Dmitry Grachev foi a julgamento sob as acusações de sequestro, ameaça de morte e lesão corporal grave contra sua ex-esposa.

No processo, ele confessou ter cortado as mãos de Margarita.

Na quinta-feira, ele foi condenado a 14 anos de prisão. Também foi proibido de ver os filhos.

"Meus filhos não sabem o que aconteceu. Pensam que sofri um acidente. É difícil para eles. Não sei como explicar", diz Margarita.

Recuperação

"Minha mão esquerda se perdeu na floresta. Mais tarde, ela foi encontrada. Estava quebrada em oito partes. A pele e as veias foram transplantadas", diz Margarita.

Os médicos reconstruíram e reimplantaram sua mão esquerda em uma operação que durou 10 horas.

Pessoas do mundo inteiro enviaram doações a Margarita, que conseguiu arrecadar R$ 243 mil para adquirir uma mão prótese biônica para a mão direita.

 

 

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