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Copa da Rússia: Não é brincadeira, não é Carnaval, é machismo

Estava bêbado? Pensa que é Carnaval? Foi de brincadeira? Não existe justificativa aceitável para assediar de modo violento e grosseiro uma mulher, como fizeram os brasileiros na Copa da Rússia. Se você tem mãe, mulher e filha, imagine uma delas sofrendo o mesmo. Perdeu a graça, né?

Desenho de Gilmar, o Cartunista das Cavernas, ilustra o comportamento machista de brasileiros na Copa da Rússia (Foto: reprodução Instagram) Desenho de Gilmar, o Cartunista das Cavernas, ilustra o comportamento machista de brasileiros na Copa da Rússia (Foto: reprodução Instagram)

Demorei para assistir ao vídeo. Por questões profissionais, respirei fundo e dei o play. Nojo. Asco. Ânsia. Indignação. A lista de sentimentos repulsivos pode se estender por toda essa página. É chocante como em pleno 2018 (século 21, terceiro milênio!!!) um bando de idiotas - não consigo chamá-los de outra coisa (e quero poupar nossos aliados, os homens bacanas, de estarem na mesma categoria desses babacas) - possa cercar uma mulher estrangeira gritando palavrões machistas, filmar, compartilhar e ainda achar graça da ingenuidade da moça.

Pior são as justificativas. O único que teve a decência de pedir desculpas, não o fez por peso na consciência, mas, sim, para limpar a barra (dele, e só dele): “Era brincadeira”, “Tenho mulher e filha”, “Homens bêbados no Carnaval, sabe como é”. A emenda é pior que o soneto.

Primeiro, Carnaval não é justificativa para desrespeito. Muito pelo contrário: foi massiva a campanha contra o assédio na folia deste ano. Estava bêbado?!? Se você é o tipo de pessoa que bebe e se comporta desse jeito indecente, você tem um problema e não deveria beber. Se tomar umas desperta o pior de você, sendo um marmanjo com barba na cara, você já deveria saber disso. Se não percebeu ainda, precisa pedir ajuda.

Brincadeira? Imagine sua filha numa festa em que a maioria das pessoas falam uma língua que ela desconhece. De repente, ela é cercada por um bando de babacas que começam a gritar em torno dela e a pular, pedindo para ela repetir o que eles estão dizendo. Achando graça, ela repete. E a frase é “boceta rosa”. Você gostaria de vê-la nessa situação?

Ser mulher e ter sangue frio para ponderar diante de uma situação como essa é um desafio sobrehumano. A sororidade grita. Se imaginar no lugar daquela mulher provoca mal-estar físico. Quanta humilhação. O desejo é que cada um dos envolvidos sofra as mais terríveis consequências. No mínimo, que eles sejam multados por mau comportamento e assédio num país estrangeiro.

Felizmente, graças ao ativismo, às ativistas e às inúmeras campanhas de conscientização (e, pelamor, ao bom senso e à educação!), ainda que a situação não seja a ideal, a tolerância com comportamentos machistas, homofóbicos e racistas diminuiu. Desde que os vídeos machistas feitos por torcedores na Rússia começaram a vazar, teve gente que perdeu o emprego. Todos estão sendo expostos ao planeta - a “brincadeira” viralizou.

E você, que tem filha, mulher, não tem vergonha de elas saberem que estando sozinho, do outro lado do oceano, você se sente livre para ter esse tipo de comportamento? E se fizessem algo parecido com elas, você ainda ia achar graça? Ia levar na brincadeira? Ah, mas quando é você gritando, tudo bem, né?

Meu caro, você é um machista, e o que você fez foi péssimo.

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