ARTIGO

Não se permita roubar-se

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Quem nunca ouviu, ou eu em redes sociais frases do tipo que nos remetem a saudades da infância, aquelas que afirmam: eu era feliz e não sabia. Eu realmente acredito que cada fase, é para ser vivida com suas dores, alegrias, estamos aqui na terra para aprendermos, treinarmos nossas dificuldades íntimas uns com os outros, uma fase com certeza será mais feliz que a outra, e não há problemas em sentir saudades, o problema está, em a grande maioria parar a própria vida, olhando para trás, se alimentando apenas do passado, como se a vida tivesse acabado, e não importasse mais o presente e o futuro.

Há situações que, em partes, nos tiram o poder das nossas vidas, das nossas mãos, como um estupro, um sequestro, uma doença sem cura, coisas do gênero, mas as demais situações, não são tão difíceis de se resolver, basta querermos de verdade, não termos preguiça mental e física para enfrentar, exemplo de algumas, é a língua maldosa da parte podre da sociedade, um pai dominador, um marido possessivo e machista, não permita que roubem seus sonhos, não se permita roubar-se.

 Quando se fala em roubar-se, tantos questionamentos se levantam, tantas questões vêm à nossa mente, e então começamos com pesar, perceber as oportunidades que perdemos, como o levar à sério os estudos, ou em alguns casos mais graves, em que os pais por motivos de pobreza extrema não permitiram que seus filhos estudassem, para trabalhar e ajudar nas despesas da casa,  uma carreira promissora, que por insegurança não perseguimos com afinco, um grande amor, que alguns deixaram partir por medo do incerto.

Conviver com mulheres, devido trabalho, amizades, grupo religioso, sem falar das mulheres da vizinhança, familiares, todas que acumulamos em nossas vidas no passar dos anos, cada uma, é como um livro vivo, porque cada uma carrega uma história, assim como um filme, onde em algum momento abriram mão de um sonho, e infelizmente, a maioria hoje se dizem arrependidas, e com aquela amarga sensação de terem na verdade, sido as responsáveis por perdas irreparáveis.

Falar, escrever sobre esse assunto tão delicado talvez pareça fácil, quando comparado a vivencia real de cada vítima da vida, ou de si própria. Sim, porque na maioria das situações, para não dizer em todas, nós mulheres, devido nossa criação, cultura, ficamos muito condicionadas, à espera de alguma, de alguém de algo que venha nos buscar, não somos ensinadas à abrir caminhos sozinhas, à conquistarmos um lugar ao sol, mas acompanhar alguém nessa luta.

Quando falamos em cultura, logo encontramos um culpado, ao menos é o que nos confortaria saber, mas não é bem assim, em todas as situações a coragem é o diferencial, e é onde falhamos, porque aquilo que agrada as convenções, é o mais fácil de se optar. Em todas as situações onde o coração não é ouvido, há aquele momento de dor intensa, aquele momento de dormir soluçando, e aquele gosto de nada na alma diante da vida em preto e branco, que foi escolhida viver.

Quantas mulheres sufocam o sonho de uma profissão, em prol de agradar um esposo narcisistas, vivem suas vidas dentro de suas casas bem arrumadas, o colar de ouro no aniversário, o carro do ano no natal, as viagens durante o ano, fotos lindas nas redes sociais, e por dentro a dor de não se sentir realizando tudo o que sonhou realizar, tudo o que sabe que poderia estar produzindo, sem contar adquirindo com seu próprio esforço, e sentir aquele gostinho maravilhoso de que tem uma vida com propósito.

Quantas mulheres para agradar familiares se casam, ou mantêm casamentos sem amor, algumas por aprenderem desde cedo que é lindo uma família perfeita, trabalhando em sua religião, com camisetas personalizadas, perfeitas em um grande pôster na sala, e no facebook. Outras buscam segurança financeira, presentes de grife, carros, viagens, boas escolas para os futuros filhos, mas  quando as luzes se apagam, engolem o pavor de pagar por tudo isso, satisfazendo sexualmente o homem que não ama em seu íntimo.

Há muitas outras situações, mas escolhi essas que são mais comuns, e em todas, não vejo problema algum, desde que fosse algo realizado sem interferências externas, um abrir mão de algo, por algo que traga felicidade, ou ao menos, que não trouxesse dor o resto da vida.

A sensação de incapacidade, frustração, quando não trabalhadas com bons profissionais, bons líderes espirituais, se transformam rapidamente em doenças psíquicas como depressão, dores no corpo, gripes e dores de cabeça constantes, obesidade, até doenças graves, sem cura.

Mulheres estão enlouquecendo de dor na alma, mulheres estão morrendo de doenças advindas de lutas internas que sentem que sempre perdem. Não é momento de  mulher lutar contra mulher, mas levantarmos umas às outras, e a melhor forma de fazer isso, é acolhendo com palavras, ações, aquelas que por algum motivo, resolvem lutar pela própria felicidade, principalmente quando seus meios de alguma forma nos incomodam.

*Pedagoga, pós graduada em Educação Infantil e Educação Especial. Proprietária do Centro de Recreação Espaço Kid's em Dourados

 

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