Brasil

Mulher de repatriado da Bolívia com covid diz que viveu "filme de terror"

Diagnosticado com covid-19, Alexandre Nascimento foi transferido de hospital de Santa Cruz para HR em Campo Grande

Raquel e Alexandre estão casados há sete anos e há dois moram em Santa Cruz (Foto/Arquivo Pessoal) Raquel e Alexandre estão casados há sete anos e há dois moram em Santa Cruz (Foto/Arquivo Pessoal)

Contaminado com a covid-19, o odontólogo Alexandre José do Nascimento, 49 anos, mobilizou operação de repatriação envolvendo Brasil e Bolívia para que pudesse ser internado no Hospital Regional de Campo Grande. Até chegar à UTI, a família enfrentou momentos de tensão.

“Parecia filme de terror", disse a odontóloga Raquel Nascimento, 34 anos, mulher de Alexandre, em entrevista ao Campo Grande News. Ela e os filhos do casal, Sofia, de 4 anos e Enzo, 2 anos, ficaram em Santa Cruz de La Sierra onde moram há dois anos. "Eu achei que ele ia morrer, não conseguia respirar, foram dias muito difíceis”.

Raquel é boliviana e conheceu o brasileiro durante a residência que fez em São Paulo. Casados há sete anos, decidiram se mudar para Bolívia a partir do nascimento do segundo filho, para contar com a ajuda da mãe dela.

O casal tem consultório em Santa Cruz estava em quarentena havia três meses. Eles chegaram a sair de casa, no fim de maio e ela acredita que o marido tenha se contaminado quando foi ao mercado.

“No começo parecia uma gripe suave, tranquila, sem febre, espirrando pouco”, lembra Raquel. No 5º dia, os sintomas ficaram mais agressivos, com dor muscular e tosse. “Naquela noite não conseguiu dormir, teve febre e calafrios”, disse.

Alexandre foi levado ao pronto-socorro do hospital de Santa Cruz e foi internado no dia 30 de maio. Raquel entrou em desespero, com medo que o quadro do marido piorasse e precisasse de suporte para respirar. “Foi incrível, jamais imaginei que ele ficasse mal, ele é forte, alto, tem 1,80”.

No Departamento de Santa Cruz, segundo dados do Ministério da Saúde, com 8.144 casos confirmados de novo coronavírus e 194 mortes. “Não tem espaço, não tem respirador, está tudo saturado, tanto hospital privado quanto particular”, descreve a odontóloga.

Depois que Alexandre foi internado, Raquel ficou cada vez mais preocupada por saber que o marido não apresentava melhora. Recebia mensagens e informações da equipe médica, pois ele não conseguia falar e estava isolado.

Uma amiga a aconselhou a entrar em contato com o Corpo de Bombeiros em Campo Grande. Raquel disse que estava nervosa, ligou, respondeu algumas perguntas e desligou, mas, sem seguida, uma médica entrou em contato pedindo mais detalhes sobre o caso.

O contato continuou ao longo da semana, até que a repatriação fosse executada. A SES (Secretaria Estadual de Saúde) recebeu solicitação dos bombeiros e a aeronave foi enviada para a cidade boliviana com quatro tripulantes: piloto, copiloto, médico e enfermeiro.

A viagem exigiu aparato de segurança sanitário e Alexandre viajou encapsulado, sendo levado ao Hospital Regional, onde está na UTI. “A médica me falou que foi no tempo certo, se não ele não fosse levado, ela e disse: ‘teu marido não teria como contar essa história’”.

Espera - Agora, Raquel respira aliviada.  “Antes, parecia um filme de terror, agora eu posso dizer que estou mais calma, já consegui dormir”.  Ela recebeu notícias de que o marido está fora de perigo e não precisou ser entubado. Logo, se o quadro continuar em melhora, deve ser transferido para leito clínico.

Raquel ainda não tem ideia quando vai poder reencontrar Alexandre. Os médicos disseram que ele precisará de tratamento posterior, pois o dano pulmonar foi extenso.

Ela também está com covid-19, mas não apresentou sintomas graves como o marido e está em isolamento domiciliar. A filha tem asma bronquial, teve febre e um pouco de coriza e vai passar por exame. No sobrado da família, a mãe de Raquel, de 64 anos, ocupa o térreo para não ter contato e correr o risco de ser contaminada. “Tenho fé que vamos sair disso logo”.

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