Uma mulher indígena Guarani-Kaiowá de Dourados, Nayara Arce de Souza, vive uma situação delicada após sofrer violência obstétrica e institucional durante o parto realizado no Hospital Universitário da UFGD (HU-UFGD), em maio deste ano.
A denúncia aponta que uma gaze cirúrgica foi esquecida no abdômen da paciente, o que causou infecções e a necessidade de uma nova cirurgia. O caso chegou ao conhecimento do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM) no dia 16 de outubro e foi tornado público na última sexta-feira (17), por meio de uma nota de repúdio.
O caso de Nayara ganhou repercussão após o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM) emitir o documento denunciando o episódio e cobrando providências das autoridades de saúde e do hospital. De acordo com o Conselho, Nayara foi submetida a uma cesariana em maio deste ano, quando uma gaze cirúrgica teria sido esquecida no abdômen durante o procedimento.
O erro resultou em quatro meses de dores intensas, infecções recorrentes e agravamento do quadro clínico. A situação só foi descoberta após a indígena desmaiar durante uma visita à irmã no hospital e ser submetida a exames que revelaram o material cirúrgico esquecido.
“Durante e após o procedimento, os profissionais de saúde esqueceram uma gaze cirúrgica em seu abdômen, um erro médico inadmissível, que poderia ter sido evitado com protocolos básicos de segurança e conferência”, destacou o Conselho em nota.
Ainda conforme o documento, Nayara precisou passar por uma segunda cirurgia para retirada do material, mas, devido à infecção, parte do intestino precisou ser exposta, obrigando o uso de uma bolsa de colostomia.
O Conselho afirma que a paciente segue internada e enfrentando dificuldades no atendimento hospitalar, inclusive “maus-tratos durante a troca de curativos, o que demonstra a persistência de uma prática desumana e racista nas relações institucionais de cuidado”.
O Dourados News conversou hoje (23/10), com a Gilvane Bezerra da Silva Dias, presidente do CMDM, segundo ela o caso chegou ao Conselho no dia 16 de outubro, e que, desde então, o órgão tem acompanhado de perto a situação.
“O Conselho Municipal de Defesa do Direito das Mulheres de Dourados vem manifestar seu mais profundo repúdio à violência obstétrica e institucional sofrida por Naiara Arce da Silva, mulher indígena Guarani-Kaiowá, vítima de graves negligências médicas durante e após o parto”, diz o texto.
O CMDM exige “apuração imediata e rigorosa dos fatos, com abertura de investigação e responsabilização dos profissionais e gestores envolvidos”, além da garantia de atendimento humanizado e digno à paciente e adoção de medidas urgentes para prevenir a violência obstétrica na região.
“Nenhuma mulher deve ser violentada. Nenhum corpo indígena deve ser desrespeitado”, finaliza a nota.
POSICIONAMENTO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
O Dourados News entrou em contato com o Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), em nota, o hospital informou que adotou todas as providências cabíveis após tomar ciência do caso e que a paciente vem recebendo acompanhamento contínuo e especializado em saúde indígena.
“O Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), vinculado à Rede Ebserh, informa que ao tomar ciência do caso, imediatamente adotou as providências cabíveis para garantir os cuidados integrais para o pronto reestabelecimento da paciente. Os protocolos e fluxos assistenciais estão sendo constantemente revisados e aprimorados e o caso está sendo acompanhado prioritariamente pelas comissões competentes e pela corregedoria da instituição.”
O hospital também afirmou que mantém comunicação contínua com a paciente e seus familiares, reforçando o compromisso com “a transparência, a segurança e a assistência humanizada que garanta a integridade e o respeito a todos os pacientes”.
Segundo informações do próprio hospital, Nayara retornou ao HU-UFGD no início de outubro, quando as complicações foram identificadas. Conforme o CMDM informou ao Dourados News, Nayara segue internada, ainda sem previsão de alta, por conta da necessidade de novos procedimentos médicos e de acompanhamento contra infecções.
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