superação

Douradense vence as drogas e lança livro de autoajuda

Dourados Agora

As histórias de dor, sofrimento e superação vivenciadas pelo douradense Reginaldo Teixeira da Cunha, por causa do vício em álcool e maconha, são os ingredientes do livro de autoajuda que ele lança nesta sexta-feira, na Câmara Municipal de Dourados. A publicação vai circular pela região, com o objetivo de orientar as pessoas que sofrem de dependência química, bem como os familiares que querem ajudar os entes queridos que se encontram nessa situação.

Intitulada “Uma Luz na Escuridão”, a obra traz reflexões e fatos vividos por Reginaldo e outras pessoas que ele entrevistou durante suas viagens pelo país, enquanto ministrava palestras motivacionais. O título, segundo ele, é baseado em um momento que foi divisor de águas em sua vida. “Um dia acordei e vi a situação que eu estava, sujo e sem nenhuma dignidade, quando vi a luz do sol no meu rosto, notei que eu não tinha simplesmente acordado, mas que tinha acordado para a vida”, explicou.

O douradense natural do Grande Flórida conta que “está limpo” há 24 anos, e desde então tem se dedicado a ajudar pessoas marginalizadas. Atualmente, ele é integrante do projeto “Amor Exigente”, entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo dar suporte emocional ao dependente químico. “As lições de vida que aprendi, tento compartilhar com outras pessoas, para que elas não cometam o mesmo erro que eu e que encontrem seu caminho longe das drogas. No projeto, atendemos gente de toda região e quando necessário, fazemos acompanhamento de perto e encaminhamos para clínicas de reabilitação, porém, todo esforço só é válido quando a pessoa realmente quer ser ajudada”, destacou.

História

Reginaldo diz que começou a beber aos oito anos de idade, influenciado pela mãe, já morta, que era alcoólatra. “Naquele tempo isso era normal. Frequentemente eu ia a bares do Parque do Lago e região, onde morava, para comprar meia garrafa de pinga a pedido da minha mãe. No caminho de volta, vinha bebendo sem ter consciência de que aquilo seria prejudicial, pois via que minha mãe bebia sempre. E assim passei por muitos anos, até chegar na adolescência, quando percebi que já estava exagerando. Bebia sempre, era um alcoólatra, mas nunca assumi; amigos e familiares pediam para eu parar, mas nunca os ouvi. Achava que colocaria um ponto final quando quisesse, mas não foi bem assim”, lembrou.

Com a juventude manchada por causa do vício em bebidas alcoólicas, ele viu sua vida ficar ainda pior quando começou a servir ao exército. “Aos 18 anos mudei para Campo Grande, onde comecei a servir as forças armadas imaginando que fosse melhorar, entretanto, minha vida só piorou na Capital, pois comecei a ter acesso a cigarros de maconha, e em poucos dias já estava viciado. Gastava tudo que tinha com a droga, mas agradeço por estar vivo. Já levei tiro e facada, além de ter apanhado muito em brigas por causa desse entorpecente. Quando cheguei a esse ponto, decidi voltar para a casa antes que entrasse em algo pior, como o crack, por exemplo”.

Ao retornar para Dourados, ele casou e teve duas filhas, entretanto, as responsabilidades de pai em nada alteraram seu comportamento. Ele parou com a maconha por falta de dinheiro, mas continuava bebendo. “A partir de então comecei a viver os piores dias. A família cobrava para que eu mudasse, mas isso me incomodava tanto, que decidi sair de casa e morar na rua. Vivia por aí, perambulando sem rumo, sempre com uma garrafa na mão. Eu dormia sempre no cantinho dos muros do frigorífico São Luiz, no final da Avenida Joaquim Teixeira Alves. Lá era meu abrigo. Nessas andanças, acabei me envolvendo com outras mulheres e tive mais quatro filhos”, disse ele lembrando que até um imóvel que havia recebido do pai, vendeu para sustentar o vício, pois não exercia mais a função de pedreiro, e por isso, não possuía remuneração.

Com parte do dinheiro que sobrou, comprou um barraco em uma favela no Parque das Nações I. Nesse período, sua vida começou a mudar. “Certa vez, já estava há mais de uma semana sem tomar banho, e decidi ir para meu barraco, durante a noite. Estava muito debilitado, sem comer, só bebendo. No meio do caminho, na rodovia, vi que não ia aguentar chegar no Parque das Nações, e entrei em uma moita ao lado da pista e dormi no mato. Horas depois, acordei com o sol brilhando forte sobre meu rosto. Tive uma sensação diferente e me dei conta do que havia me tornado. Estava sujo, descalço, com apenas um short e exalando um mal cheiro horrível. Nessa hora, vi a luz na escuridão e senti como se todos os anos ruins da minha tivessem sido apenas um pesadelo. Chorei muito, mas tive forças para voltar a casa, na região do Flórida, onde encontrei minha esposa deixando a casa. Ela estava indo embora pois não aguentava mais tanto sofrimento”, disse.

Ele completou: “Naquela hora, eu pedi mais uma chance a ela e disse que iria mudar, pois que sabia que precisava ser ajudado. Ineditamente procurei os Alcóolicos Anônimos (AA) e passei a ser outra pessoa. Desde então nunca mais tive recaídas e me dediquei a fazer cursos e especializações, para ajudar a resgatar pessoas que estão fragilizadas assim como eu estive. Já se passaram 24 anos desses tempos sombrios, mas sempre lembro de tudo e me emociono ao ver minha esposa, com quem tive mais uma filha, feliz ao meu lado.

Amor Exigente

O grupo “Amor Exigente” atende em Dourados às terças-feiras, na Paróquia São José, centro de Dourados, a partir das 19 horas, e às quintas-feiras, a partir das 19h30, na Paróquia São João Batista, no Jardim Água Boa. Em Itaporã, o atendimento acontece às 19h30 das segundas-feiras. Outras informações podem ser adquiridas com Reginaldo, através do telefone: (67) 9955 – 7376. O lançamento do livro é às 19h30, na Câmara de Dourados, sexta-feira.

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