Superando uma dor

Mãe cria página no Facebook em mais uma tentativa de superar a morte do filho

São duas fotos postadas por dia no Facebook, mas poderiam ser 10 ou 12, caso Denise Pacco atendesse a própria vontade, sem pensar no que isso significa. A dor de perder um filho aos 19 anos ela não consegue definir. “Nunca que vão conseguir dar nome pra isso”, comenta. Mas a saudade fica evidente na página criada no dia 15 de janeiro de 2014, 1 ano e 4 meses depois do acidente de carro que matou Murilo.

“Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já...” resume, usando a poesia. Tem sido meses complicados, de um sofrimento que muda os contornos, mas não diminui, diz Denise. Por isso, ela decidiu compartilhar o que sente com quem estiver disposto a ler, no Facebook.

Na página “Meu filho Murilo, saudade eterna”, a mãe fala sobre a perda, exibe imagens de quando o filho era criança, depois de adulto, lança frases como se ele pudesse ouvir e assim vai passando os dias com a lembrança.

O psicanalista dela não aprovou em nada a ideia, mas Denise resolveu que vai sofrer o quanto precisar. ”Eu vivia para ele, meu único filho. Não tem tempo que diminua, mas vou superando por etapas”, comenta a mulher de 49 anos, que mora em Itaporã.

Foi em uma estrada de terra do município de Itaporã, a 227 quilômetros de Campo Grande, que Murilo Paco Velozo morreu. Ele dirigia o carro quando voltava de um aniversário. Em uma das curvas, perdeu o controle do veículo. Dos 3 jovens dentro do carro, só Murilo não resistiu aos ferimentos.

“Quando você recebe uma notícia dessas, sei lá, não tem como explicar. Sou católica, me apeguei a Deus e busquei a terapia”, lembra Denise.

Ela estava já separada do ex-marido há 8 anos quando Murilo morreu. Em 2013 se casou de novo e há 4 meses voltou a trabalhar como inspetora de alunos. Mas só um ano depois da morte conseguiu reduzir as fotos espalhadas pela casa, com todas as fases da vida do filho, em porta-retratos e paredes. Agora, o Facebook é o álbum.

No coração há contradições, um conflito entre o que Denise é e como quer ser. “Só retornei ao trabalho quando senti que estava preparada, não me forço a nada. Faço o que tenho vontade, como a página no Facebook. Só não faço tudo, como postar 12 fotos por dia, porque sei que não é normal. Mas eu tenho vontade.”

No ano passado, o caso da mãe que entrou na Justiça para que o Facebook excluísse o perfil da filha morta ganhou repercussão, mas Denise diz nunca ter se importado com isso. “Eu acompanhava a vida toda dele, reclamava quando ele postava alguma coisa que eu achava imprópria. Então ele me bloqueou. Comecei a usar o da minha mãe, e ele bloqueou também. Depois, quando o Murilo morreu, os amigos me mostravam. Hoje não me importo que continue lá.”

Os livros de auto-ajuda que agora a acompanham, tem frases compartilhadas na rede social. São lições que serviram para Denise e que ela tem a necessidade de levar a outras pessoas com a mesma dor. “Evito ir aos velórios, mas quando quem morreu é jovem, eu faço questão de ir e tentar confortar”.

No Facebook, os amigos respondem, tentam confortar, lembram de Murilo, mas isso parece importar menos. “O que eu quero mesmo é desabafar. Nada apaga, mas ajuda a viver”, avisa.

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