Capital

Foram 11 anos arrecadando e entregando presentes de Natal para crianças, mas, em 2021, para a surpresa de muita gente, o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) não realizou a campanha. Faltando 10 dias para a data, quem foi consultar o site do Pacijus (Programa para Ajuda à Criança e ao Idoso) para adotar uma cartinha e garantir que o “Papai Noel” realizasse o desejo de criança ou adolescente que vivem em abrigos, percebeu que o sistema estava vazio.

Numa rápida busca na página oficial do Judiciário estadual, é possível encontrar a portaria nº 1.937, que até então, havia passado despercebida, mas em 12 de fevereiro deste ano, extinguiu as campanhas de Páscoa, do Agasalho, do Dia Internacional do Idoso, do Dia da Criança e do Natal. A decisão, do então recém-empossado presidente do TJMS, desembargador Carlos Eduardo Contar, foi publicada no Diário Oficial da Justiça do dia 19 daquele mês.

O Campo Grande News apurou que as instituições, acostumadas com o programa todos os anos, prepararam as cartinhas e ficaram esperando contato do Tribunal para recolher os pedidos. Algumas delas telefonaram e descobriram que o programa havia chegado ao fim.

“No começo da atual gestão, o projeto foi extinto. A gente só percebeu agora”, afirmou um funcionário do Judiciário estadual, que pediu para ter o nome preservado, sobre o sentimento dele e dos colegas, que tinham a intenção de ajudar.

O Pacijus foi criado em 2009. Conforme registrado em matéria publicada no próprio site do TJMS, o programa surgiu depois de iniciativa de um funcionário do Judiciário, que arrecadou brinquedos para presentear 612 crianças de 12 instituições da Capital naquele ano. “A mobilização foi tamanha, que a iniciativa de um servidor da Secretaria de Tecnologia da Informação agora virou projeto. Para este Natal de 2009, o Pacijus pretende realizar os sonhos de mil crianças e adolescentes carentes da Capital”, diz o texto de divulgação.

No ano passado, apesar da pandemia, o Natal do Pacijus entregou presentes para um total de 1.652 pessoas, entre crianças, adolescentes e idosos abrigados em 84 instituições, na Capital e no interior.

As entidades - A Casa da Criança Peniel era uma das entidades atendidas com a ação solidária. “Desde o início, sempre participamos, até porque as crianças acolhidas têm ligação com o Judiciário, são encaminhadas para nós pela Justiça. Era muito bacana, porque a criança podia escolher o que ganhar. A criança se sente importante. Mas cada gestão é uma gestão”, afirmou Joelma Lúcia Damasceno Fachini, presidente da instituição.

Ela diz não ter do que reclamar, contudo, já que nenhuma das 12 crianças acolhidas ficará sem presente de Natal. “Já recebemos ontem doações no TCE (Tribunal de Contas do Estado), por exemplo”.

A Casa da Criança Peniel está arrecadando, agora, artigos para cestas básicas e para as ceias de fim de ano. Segundo Joelma, outras 30 famílias que tiveram crianças reintegradas também são atendidas pela entidade. Para doar, basta fazer contato no (67) 3383-7867.

Josefa Rosa de Andrade Arruda, diretora do Lar Vovó Miloca, conta que a instituição também participava do projeto. “Pediam pra gente fazer uma cartinha, onde as crianças diziam o que elas queriam ganhar. Antes da pandemia, a gente levou crianças para receberem os presentes. No ano passado, entregaram aqui. Mas agora, não sei porque não teve”.

Os meninos e meninas acolhidos também já ganharam presentes. “Vamos passar com 17 crianças, se não chegar mais, mas já ganharam e acredito que vão ganhar mais, porque já ligaram pedindo a quantidade de crianças e as idades”, afirma.

Meio milhão – Apesar de abandonar a campanha de arrecadação de brinquedos, para este fim de ano, o Tribunal de Justiça separou R$ 486.984,24 do orçamento para investir na montagem e desmontagem das luzes e ornamentos natalinos em sete prédios do Judiciário.

O Campo Grande News questionou o TJMS sobre a decisão de acabar com o Pacijus, mas até o fechamento da matéria, não recebeu retorno.