A sessão da Câmara Municipal de Itaporã de segunda-feira (12) foi marcada por forte indignação por parte dos vereadores Lindomar de Freitas, Miguelzinho e Manoel da Saúde. O motivo foi um áudio atribuído a um secretário da atual administração municipal, no qual o mesmo se refere de maneira depreciativa a membros do Legislativo e servidores da Casa.

Na gravação, que circula em grupos de mensagens e redes sociais, o secretário afirma que participou pela primeira vez de uma sessão da Câmara, mas que não pretende retornar "para não ver a cara de vagabundos". Apesar de alegar que a fala não se dirigia a todos, ele classifica uma parcela dos presentes como "vagabundos", repetindo o termo em diferentes trechos da mensagem.

“Primeira vez na vida que eu participo de uma sessão na Câmara. [...] Não quero voltar lá tão cedo pra não ver a cara de vagabundos. [...] Aí os vagabundos, que não são todos, claro, né? É uma minoria.”

As declarações repercutiram negativamente entre os parlamentares, que usaram o tempo de tribuna para defender a dignidade dos servidores públicos e da própria instituição legislativa.

O vereador Lindomar de Freitas foi enfático em sua fala, manifestando profundo descontentamento com o teor do áudio:

“Repudio com indignação o áudio do gerente de obras da Prefeitura de Itaporã, onde ele ofende trabalhadores e desrespeita a nossa Câmara Municipal, chamando todos de ‘vagabundos’. Isso é inaceitável! Não podemos admitir esse tipo de fala contra quem trabalha com seriedade.”

Também se posicionando com firmeza, o vereador Miguelzinho destacou que, ainda que o secretário não tenha direcionado as palavras a um nome específico, o desrespeito atinge todos que atuam na Casa de Leis:

“Repudio a fala do secretário de Obras. Aqui nesta Câmara não tem vagabundo. Aqui tem pai de família, tem trabalhador. Todos os vereadores desta casa são trabalhadores. E os funcionários da Câmara também. Ninguém aqui merece ser tratado com esse tipo de linguagem.”

Por sua vez, o vereador Manoel da Saúde reforçou que, mais do que uma crítica política, as palavras do secretário representam um ataque direto à dignidade humana e ao papel dos representantes públicos:

“Aprendi o que é respeitar o ser humano. É preciso muito cuidado com o significado das palavras. Não se pode aceitar desrespeito à figura dos parlamentares, que estão aqui para representar o povo com legitimidade.”

O episódio gerou repercussão imediata no meio político local e reacende o debate sobre o tom do discurso público e a responsabilidade que figuras públicas devem manter ao se expressar — mesmo em caráter pessoal.

Leia o áudio transcrito na íntegra abaixo.

“Primeira vez na vida que eu participo de uma sessão na Câmara. 53 anos. Primeira vez. Fui na Câmara em outras ocasiões, mas participar de uma sessão foi a primeira vez. E não quero voltar lá tão cedo pra não ver a cara de vagabundos. Não quero voltar lá tão cedo pra não ver a cara de vagabundos. Aí os vagabundos, que não são todos, claro, né? É uma minoria. Aí os vagabundos, eles se afastam, porque eles ficam com vergonha. Vocês já repararam isso? O vagabundo, quando ele fica com vergonha, ele se afasta. Porque ele não quer olhar na sua cara. Ele não quer pedir o que ele te pedia mais. Ele não quer ficar, né? Oh, faz isso, oh, faz aquecendo, que não tem nada a ver, né? Eu canso de falar, eu sou secretário de Itapurã. Eu não sou secretário do meu partido. Do partido que eu sigo, eu sou secretário de todos. 

Então, independente de qualquer coisa, o que está ao meu alcance, eu atendo. Assim é a saúde, assim é a educação, assim é qualquer setor, né? A gente não pode misturar, né? Mas eu tô falando no meu particular, né? Então, essa minoria de vagabundos, eles se afastam de você sem você fazer nada. Porque eu não sou político, né? Eu faço meu comentário pessoal. É um direito meu. E o vagabundo, ele mesmo fica com vergonha, ele mesmo se afasta. Ele mesmo. É um vagabundo que tem um pouco de vergonha, entendeu?”